sexta-feira, 27 de abril de 2012

Toni Tornado - Me Libertei

Eu nunca imaginei que fosse escrever um post sobre o Toni Tornado. Cara, quem é o Toni Tornado, afinal? Eu não sei nada sobre ele! Eu poderia jogar no Google e fingir que sei, mas seria charlatanismo da minha parte. Não sei e pronto. Mas aí é que está o grande barato dessa história de compartilhar. Explico-me: desde que comecei o blog, tenho recebido pérolas de diversas fontes. Pensam que só vocês recebem? Péééé!, errado! O mundo mágico do compartilhamento é igual que nem a flechinha da reciclagem: uma via de mão dupla! Daí que, numa dessas flechinhas apontadas pra mim, me chegou essa suingueira incrível do Toni Tornado. Foi meu segundo contato com ele. O primeiro, gente, foi na novela Vamp, em 1991. Pode vasculhar no seu baú da memória que está lá.




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terça-feira, 17 de abril de 2012

O bizarro desaparecimento de uma cachorrinha com nome de fruta ou Como conheci o simpático submundo do meu bairro

É terça-feira e são cinco horas da manhã. O pobre coitado que passa no Santana caindo aos pedaços quase não acredita na moça que caminha em direção à esquina. Ele pensa que tirou a sorte grande e já desacelera pra começar as negociações, mas ela olha pra ele com desconfiança, faz meia volta e desiste de plantar-se na esquina. O homem vai embora resignado com a perspectiva de mais um dia de labuta e – como se não bastasse – ressaca.


***

Domingo à noite o pós Carnaval da moça ganhou ares de infância quando chegou a surpresa: quatro patinhas totalmente despreparadas para equilibrar o corpinho roliço de apenas 43 dias. A cachorrinha chamou-se Graviola, pois a menina que morava dentro da moça achou fofo, embora muitos tivessem tentado dissuadi-la da escolha argumentando que o nome era muito grande.
Até a moça ficou cansada, mas a menininha não queria senão apertar, apertar, apertar. Ela estava explicando à Graviola que sua razão de ser era fazer aquela criança feliz – função que a cachorrinha desempenhava com maestria.
Finalmente a moça conseguiu levá-las – a menininha e ela própria – pra dormir. Na segunda-feira elas teriam de acordar particularmente cedo, pois a moça tinha reunião às sete e meia da madrugada.

Segunda, seis horas da manhã veio a constatação trágica de que a Graviola desaparecera. O avô dela – também pai da moça – já procurara em todo canto, inclusive na rua, do outro lado dos altos muros que cercam a casa da família. Ele já colocava as meias e os sapatos, resignação de segunda-feira e de Graviola, quando a moça, inconformada, resolveu ela mesma iniciar as buscas pelo bairro.

Do outro lado dos altos muros que cercam a bela casa da família as moças que não têm família trabalham dia e noite pra pagar o aluguel do quartinho da espelunca. Ainda bem: não fosse assim, não estaria na esquina a Rose. A Rose tem três filhos pequenos e um pai que deixou de ser taxista porque virou cadeirante, mas a própria tragédia não a impediu de ficar profundamente comovida com o drama da menininha que perdera a cachorrinha. A Rose tinha visto a Graviola. Ali mesmo na esquina, brincando serelepe com os passantes que começavam suas segundas-feiras. Minutos antes de a moça aparecer, revelou a Rose, uns rapazes que passavam por ali todo dia levaram a cachorrinha. Mas levaram pra onde, meu deus?! A Rose não sabia.

***

Terça-feira, quinze para as cinco da matina o despertador toca, como se precisasse. Moça e menininha pulam da cama. Era quase um tirar o pai da forca. Vestem-se às pressas, a moça um pouco preocupada com o que vestir em tão pitoresca ocasião.  A primeira coisa que aconteceu quando ela pisou fora de casa foi a sua preocupação se justificar. Ela não tinha medo de violência física, mas, ah!, que nojento ser olhada daquela maneira por aquele homem também nojento! Fez meia volta, esforçou-se ao máximo para parecer moça de família e quando o nojento foi embora voltou a caminhar na direção da esquina somente para constatar, desolada, que a Rose não estava lá. Porque era a Rose a única pista do desaparecimento da Graviola, ela esperou. Na esquina, de madrugada, em situação inédita pra moça que se preze.

Logo um carro encostou na esquina e a Rose desceu. A moça bem imaginou que ela devia estar trabalhando, pois na noite anterior ela havia jurado que todos os dias exercia o ofício até seis da manhã naquela esquina. Juntas elas puseram-se a esperar os supostos sequestradores da Graviola. Como eles não passavam nunca, a moça ficou sabendo dos três filhos da Rose, do acidente que paralisara seu pai, dos seiscentos reais de aluguel, do ex-patrão, etc. Elas caminhavam alguns metros, a Rose com dor no pé e com o chinelo de dedo arrebentado.

Lá pelas tantas a moça foi pra casa chorar no colo da sua mãe porque os suspeitos não passaram. A mãe, é claro, sentia pela filha. Muniu-se de sua calma e maturidade e foi para a rua. Andou para além da esquina da Rose, que não estava mais lá, e deparou-se com um ponto de táxi. Contou aos motoristas o pranto da filha, e eis que surge uma nova pista. Havia sim uns moços, mas não era todo dia, era toda segunda-feira. Pegavam a tal da van e iam para a tal da construção pegar no tal do batente durante toda a semana. E não é que um dos taxistas lembrava o nome da empresa?

A mãe só foi acordar a moça, que voltara a dormir, depois de jogar o nome da empresa no Google, contar à secretária a história da Graviola (com o adendo “criança doente”), descobrir que a cachorrinha fora levada para uma construção em Porto Feliz (onde estava fazendo a festa dos pedreiros/sequestradores) e garantir que o mestre de obras a traria pra casa sã e salva na noite de quarta-feira.


Epílogo

A Graviola voltou pra casa por volta das oito da noite, alegre e frenética como no dia em que eu a conheci. A Rose deve ter chegado na minha esquina bem mais tarde do que isso. Como trabalho de dia e à noite estou dormindo, ainda não consegui encontrar a Rose para agradecer pessoalmente, coisa que meu pai já fez. Eu acho que ela não lê meu blog. Acho mesmo que nem acessa internet. Estou devendo um “obrigada” de todo tamanho pra essa mulher.


foto: Caroline Riley


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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sinatra & Jobim

Diz que o Tom Jobim não acreditou quando A Voz do outro lado do telefone apresentou-se como Frank Sinatra e o convidou pra gravarem um disco juntos. Desligou na cara, conta-se. Ainda bem que o Frank ligou de novo.
O disco Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim foi eleito pela crítica o melhor de 1967, e naquele ano ficou em segundo lugar nas paradas, perdendo só pro Sgt Pepper’s Lonely Heart Club Band. É muito fino esse disco. Aqui os dois dão uma palinha pra gente. A produção simples e classuda esbanja bossa nova: smoking, cadeiras de palha e cigarrinho na mão. Eu fecho os olhos e tenho vista pro Corcovado.




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terça-feira, 10 de abril de 2012

Rachel Crow - I'd Rather Go Blind

Cantar no chuveiro é uma delícia. Banheiros em geral têm acústicas incríveis, e estacionamentos de shopping também. Mas no banheiro a gente fica na companhia da nossa solidão, e a solidão é uma platéia incrível. Eu experimento coisas com a minha voz que só meu chuveiro sabe. Cometo atrocidades e não estou nem aí. O grande barato é esse: não estar nem aí - só ali.

Vou compartilhar uma das minhas fantasias irrealizáveis: eu queria ouvir a Ella Fitzgerald no chuveiro. Se ela fazia o que fazia na nossa frente, imagina o que não acontecia quando estava experimentando seu timbre, testando seu alcance, cantando em palcos imaginários! Devia ser, com o perdão da expressão, do caralho!

A Ella é minha favorita, mas eu também ficaria bem feliz com os banhos de Billy Holliday, Aretha, Etta James, Sarah Vaughn e todas as divas do jazz.

E eis  que chegamos na minha nova mini diva. O meu banho da Rachel Crow acontece em uma banheira de espuma e ela não está sozinha, mas na companhia de um clássico patinho amarelo. É que ela é uma meninazinha fofa de 14 aninhos! Você vai duvidar disso depois de vê-la cantar.

A Rachel apareceu no programa (mega) americano The X Factor. É mais uma daquelas competições de cantores por um contrato milionário. Ela não ganhou, mas já assinou contrato com uma grande gravadora. Essa menina não é uma promessa: ela já é uma diva.

Aqui a pequena manda um clássico de Etta James, e eu ouso dizer que a versão ficou melhor que a original!  





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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Eu quero agora



A sábia me disse que não é exatamente a pressa a verdadeira inimiga da perfeição. A pressa, ela disse, é só disfarce. Pressa não é sentimento: é fazer. É a reação imediata de quem esbarra no tempo. Pressa é atropelar as próprias pernas exigindo do tempo que saia da frente.
A sábia, quando está comigo, conversa com as minhas ansiedadezinhas. Ela lhes diz: “pra que a pressa, se o futuro é a morte?”. E segue explicando, as palavras tranquilamente cadenciadas, que o destino não tem graça sem as cores e os cheiros do caminho. Cada palavra que a voz doce da sábia diz é como uma caixinha, que se abre e revela outra caixinha, que se abre e revela outra caixinha, que se abre e revela outra, sempre outra. Eu me sento diante dela de pernas cruzadas como que para escutar a professorinha do primário, e as palavras que ela diz vão ficando mais e mais gordas de sentido, e tão bonitas que me fazem esquecer que antes eu tinha pressa. Então eu fico inteira no único tempo que tenho: o presente.
A sábia mora dentro de mim.

Ocorre que às vezes ela se cansa, porque eu nunca aprendo. Ou será que, pelo contrário, me superestima e pensa que não preciso mais dela? O fato é que de tempos em tempos a sábia escolhe uma caverna – dentro de mim tem muitas cavernas – onde por tempo indeterminado se recolhe com toda a sua sabedoria. Ela hiberna, e então se faz inverno em mim. Inverno de mim, de ansidadezonas efervescentes.
Onde você foi, sábia? Acorda logo, me ajuda! Eu tenho pressa de te encontrar!
 

Passagem do tempo, pressa


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terça-feira, 3 de abril de 2012

Chico Buarque - jingle de Natal

Isso sim é pérola! Esse sambinha pueril faz parte de um compacto raríssimo de 1967. O disco era um brinde de final de ano da já extinta imobiliária Clineu Rocha. Contrataram o Chico pra fazer um sambinha natalino e deu nisso. Depois teve briga, porque o seu Clineu quis dar uma de malandro pra cima do Chico. Quem contou, em entrevista ao Coojornal em junho de 1977, foi Ele mesmo:

Coojornal - Em compensação, aquela imobilária de São Paulo, a Clineu Rocha, usou com a maior cara de pau uma música tua como jingle...
Chico Buarque - Mas ela foi a falência como castigo (risos)
Coojornal - Como foi mesmo essa história da Clineu Rocha?
Chico Buarque - Não, foi um negócio de dez anos atrás. Eu fiz uma musiquinha, gravei com violão assim, que era para essa empresa distribuir aos sue clientes de brinde no Natal. Mas estava escrito, não era gravação comercial, não era para tocar na rádio nem nada. Agora há dois anos atrás usaram no Natal como
jingle da firma. Aí fui lá e processei e eles me deram a grana porque era um abuso.


Agora começa a viagem no tempo. Primeiro tem um texto introdutório que deve ter sido escrito por alguém cuja paixão por Ele se equipara à minha. [Preciso conhecer essa pessoa]. Depois vem o sambinha e na sequência (medo) você vai ouvir alguns jingles assustadores da Clineu Rocha. Talvez você queira apertar o pause antes disso.





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