terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Noel Rosa, o Poeta da Vila

Apenas vinte e seis aninhos tinha Noel Rosa quando a tuberculose o levou. O bicho era feio, mas feio mesmo. Nasceu há exatos cento e dois anos. A fórceps, e com uma má formação na mandíbula que lhe garantiu o peculiar rosto quase sem queixo. Era magrinho que só! Um fiapo de gente! Dinheiro também não tinha: demoraria ainda muito tempo pra que músico começasse a ganhar dinheiro com música. 

Noel Rosa, Poeta da Vila

Mas, como a todo bom artista, mulheres não lhe faltaram. Casou-se com a bela Lindaura (com esse nome, ainda bem que era bonita!), mas seu grande amor foi a prostituta Ceci, que Noel homenageou com o sambinha Dama do Cabaré. Com ela Noel passava noites regadas a muita bebida e cigarros, protagonizando uma infinidade de causos daquele caldeirão cultural que era a Lapa carioca.

Dama do Cabaré - Orlando Silva

Travou um frutífero duelo musical com Wilson Batista, de que resultou um sem-fim de sambinhas que nunca pararam de ser regravados, como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Suas marchinhas também continuam ecoando ano após ano no Carnaval carioca. Aqui escolhemos a saborosa Pierrot Apaixonado, história de amor executada pelo grande Heitor dos Prazeres, parceiro de Noel na composição. Mais uma pérola do baú da TV Cultura.


Feitiço da Vila - Rosa Passos


Palpite da Vila - Lisa Ono


Pierrot Apaixonado - Heitor dos Prazeres


Já no fim de sua vida, Noel foi a BH respirar um pouco de ar puro e afastar-se da vida boêmia, seguindo recomendações de seu médico. Da capital mineira o Poeta da Vila Izabel escreveu para o médico os seguintes versos: "Já apresento melhoras/Pois levanto muito cedo/E deitar às nove horas/Para mim é um brinquedo/A injeção me tortura/E muito medo me mete/Mas a minha temperatura/Não passa de trinta e sete/Creio que fiz muito mal/Em desprezar o cigarro/Pois não há material/Para o exame de escarro".



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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Carmen Miranda ainda hoje

Caetano Veloso, Marisa Monte, Daniela Mercury, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhoto, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Bebel Gilberto, Elis Regina e Gal Costa: este são alguns dos milhares de artistas que já regravaram canções celebrizadas por Carmen Miranda. Ainda assim é difícil compreender, com o olhar de hoje, o que diabos é que essa baiana tem. 

A primeira coisa a ser dita é que Carmen nasceu em Portugal. Mas tudo bem, não precisamos dividir as glórias com os portugas porque ela veio pra cá muito pequena e o Brasil sempre foi o país do seu coração. A segunda coisa a dizer é que Carmen, se fosse brasileira, não seria baiana. Ela cresceu na Lapa carioca, que nos anos 1910 e 1920 era aquele caldeirão cultural fervilhante que a gente conhece das músicas do Chico Buarque. Estamos falando da época em que o samba ainda era pecado e nos salões da alta sociedade o que se bailava era música gringa.

A pequena notável apropriou-se de toda essa sopa cultural e fez-se a primeira artista multimídia do Brasil. Além de cantar, dançar e atuar, transitava com facilidade pelo que viria a se tornar a indústria cultural. Sua projeção internacional até hoje não é comparável à de nenhum outro artista brasileiro  você conhece alguém mais que tenha virado desenho da Disney?

Mas a Carmen Miranda dos americanos mostrava um Brasil cheio de latinidades, misturando no mesmo balaio Rio, Bahia e pitadas de salsa. Incentivada pelos produtores americanos, carregava nos trejeitos e no sotaque, embora falasse inglês muito bem. Foi, por isso, acusada de acentuar o esterótipo brasileiro e de servir de instrumento para a estratégia americana da boa vizinhança, que precedeu a Segunda Guerra. Esse assunto é abordado com mais profundidade na postagem sobre o Zé Carioca

Da controvérsia veio um de seus maiores clássicos, Disseram Que Voltei Americanizada, gravado posteriormente por Caetano Veloso, Roberta Sá, Adriana Calcanhoto e muitos outros. 

Como toda estrela que se preze, Carmen partiu jovem e sozinha. Estava afogada entre compromissos de trabalho e remédios, e em 1955 morreu aos 46 anos.

Escolhi o trecho de abertura no filme That Night in Rio (1941). Carmen que me desculpe, mas é transbordante a presença do elemento político pré-guerra nessa cena. Na sequência Roberta Sá nos mostra sua versão para Disseram Que voltei Americanizada. O vídeo é parte de um especial que celebrou o centenário da estrela.
   




   

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Barbatuques, Julien Neel & Nick McKaig e o instrumento corpo

A capella é uma expressão de origem italiana que designa a música executada tão somente pela voz, sem o acompanhamento de instrumentos. A coisa começou com o canto gregoriano lá no século VI. Mas hoje a gente não quer falar de história. A gente quer falar sobre as brincadeiras de um pessoal que vive de explorar o instrumento corpo e todos os infinitos sons que ele pode produzir. 

A gente vai começar com os Barbatuques e a música Bainá. Como sugere o nome, o grupo vai muito além do canto a capella, descobrindo os diferentes timbres desse instrumento de percussão chamado corpo, que eu tenho e você também. Já estive em show deles e é uma delícia. Além de ser um deslumbramento auditivo, faz a gente descobrir nosso próprio instrumento, porque eles são generosos e botam a platéia pra tocar com eles!

Segundamente, uma versão a capella mesmo, só com vocais, do francês Julien Neel com o norte-americano Nick McKaig. Coisa de louco o que esses meninos fizeram! Simplesmente um pout-pourri de todas as musiquinhas do Mario Bross. Espere até eles te levarem para as fases do mundo das águas! 

E bora cantar!





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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Saravacalé - a mistura do samba com flamenco


Foi no samba da Praça Roosevelt que o Saravacalé apareceu pra mim. É que lá eu conheci um moço que também tem um blog: o Samba con Flamenco. O moço é carioca e veio trabalhar em Sampa depois de uns 10 anos entre Alemanha e Espanha. Neste último país ele procurou muitíssimo essa mistura sonora que lhe parecia um casamento perfeito: samba + flamenco! Mas nada de o moço achar. Foi somente quando ele começou suas escrivinhações que, por acaso, alguém achou pertinente apresentar o Saravacalé ao autor do Samba con Flamenco.

Duas vocalistas com pinta de gatinha entoam clássicos da música flamenca que eu desconheço e uma porção de sambinhas que todos nós conhecemos. A espanhola se rasga no sofrimento visceral do ritmo ibérico, enquanto a brasileira, não menos afinada, põe no tempero a malemolência do samba. No samba de Vinícius, castanholas, e o pandeiro impõe o andamento ao violão flamenco. O carioca tinha razão, muy rico este samba do crioulo doido! Ele entrevistou a voz flamenca da banda e contou toda a história do surgimento da mistura, então chega de plagiar o conteúdo dele, né? Tá aqui pra quem quiser.

E vamos de música, ¿si?

Rosa Morena


Falta Pouco


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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Elas nunca se entenderão (e se entendem todo dia)


- Mas então quer dizer que a Fefê é lésbica, filha?
- O que foi que eu acabei de dizer, mãe?
- Que ela é lésbica, que beijou uma moça!
- Eu disse que a Fefê está namorando a Ana. Ponto.
- ... não entendi...
- Mãe, ela está namorando a Ana, antes namorou o Paulo e sei lá quem vai namorar depois!
- Mas então a pessoa vira lésbica? Não nasce lésbica? E depois pode virar ex-lésbica?
- Mãe, por que é que você tem que colocar etiqueta em todo mundo?
- Etiqueta? Estou confusa... lésbica não é mulher que gosta de mulher?
- Como você é simplista.
- Filha, estou tentando entender! Não sei como funciona! É uma coisa que a pessoa escolhe?
- Escolhe?! Escolhe o quê, mãe???
- Se vai ser gay, se vai ser lésbica! Não falam que é a opção sexual da pessoa?
- Vixe, mãe...
- Sério, filha, me explica! O que é ser lésbica?
- “Lésbica” é um rótulo, mãe, não serve pra nada.
- Filha, etimologicamente, “lésbica” vem de “Lesbos”, a ilha grega em que moravam as Amazonas...
- Mãe, pára!
- O quê? O que foi?
- ...
- Tá bom, tá bom. Deixa eu pensar... O Ricky Martin. O Ricky Martin é gay, não é? É sim, eu lembro quando ele saiu do armário, deu na TV.
- E o Ronaldo, mãe? O Ronaldo é gay?
- O Ronaldo?
- É, mãe, o Fenômeno.
- O Ronaldo é casado! Pai de família!
- Lembra daquela história com os travestis?
- Ai... teve isso, né...
- Teve, mãe, teve isso.
- O Ronaldo é gay, filha?
- Mãe, o Ronaldo é o Ronaldo! Casou, teve filho, separou, saiu com travesti – ou não, sei lá – depois casou de novo... A Fefê é a Fefê e eu sou eu!
- Você está dizendo que gay não existe? Nem lésbica?
- Ai, mãe, chega. Fica aí com as suas etiquetas. Tô saindo, vou encontrar o pessoal.
- A Fefê?
- Tchau, mãe.

***

- Filha...
- Oi, mãe?
- Eu queria te dizer uma coisa...
- Fala, mãe.
- É sobre aquela conversa que tivemos no outro dia...
- Que conversa?
- De gay, de lésbica...
- A conversa das etiquetas?
- É... isso...
- Mãe, desembucha.
- Filha, eu quero que você saiba que a mamãe te ama muito e vai te amar pra sempre, não importa o que aconteça. E você pode me contar qualquer coisa que a mamãe vai sempre sempre te apoiar, tá bom?
- Nossa, mãe, pirou, hein?
- Filha, espera!
- To saindo, mãe, vou encontrar uma amiga.
- Uma amiga? A Fefê?
- Tchau, mãe.




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terça-feira, 6 de novembro de 2012

La Cumparsita - Gerardo Matos

Perdoem-me os hermanos, mas verdade seja dita: é uruguaio o tango mais famoso do mundo. 

Apenas 17 anos tinha o rapazote Gerardo Matos quando o compôs, em 1917. O pessoal do café La Giralda, em Montevidéu, até que gostou e La Cumparsita fez algum sucesso no Uruguai. Mal sabia Gerardo o que estava acontecendo com seu tango mundo afora.

O sucesso em Buenos Aires foi enorme, mas o verdadeiro estouro deu-se em Paris. Gerardo, que ainda aos 17 vendeu seus direitos autorais  por 20 pesos, conta-se!  foi à Cidade Luz para descobrir que seu tango era tocado em cada esquina, porém com letra diferente da que ele compusera em 1917. 

Depois de três batalhas judiciais, finalmente em 1948 um acordo entre todos os compositores e letristas que deram algum pitaco em La Cumparsita pôs um ponto final nas brigas, decidindo quem receberia os royalties para cada tipo de execução do clássico.

Ainda hoje, no entanto, há controvérsias sobre a autoria deste tango uruguaio. Se alguns creditam-no integralmente a Gerardo, outros afirmam que um pianista tão inexperiente não poderia tê-lo composto sozinho, e que Roberto Firpo  supostamente o primeiro a executá-la  teria tido grande participação na harmonia.

Historinhas à parte, fato é que La Cumparsita garantiu seu lugar de honra nas controversas listas das músicas mais executadas de todos os tempos, competindo com gigantes como Yesterday e Garota de Ipanema. Aqui iremos saboreá-la no Teatro Colón, em Buenos Aires, executada pelo grupo Cafe de los Maestros com a orquestra Juán D'Arienzo.  





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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Bolero de Ravel - Sergiu Celibidache

Fiquei extasiada quando vi o Celibidache pela primeira vez. Sigo em êxtase a cada vez que o revejo, e reencontro o mesmo fascínio nos olhos dos amigos pra quem já tive o prazer de mostrar essa imensa pérola. 

Muitos me perguntam por que eu ainda não tinha postado esse vídeo. Não tenho resposta para isso. Simplesmente não sentia que fosse a hora. Ainda não me era possível escrever a apresentação digna. Quem acompanha o blog sabe que não se trata apenas de adicionar mais um vídeo. Não, eu me compartilho um pouco através de cada pérola. Acho que estávamos amadurecendo, eu e a pérola.  

Eu tinha pensado em escrever uma breve apresentação biográfica desse incrível maestro. Mas não é isso que importa. O Celibidache não está no blog pelos cargos importantes que ocupou nas mais prestigiadas orquestras da Europa, nem pela profundidade azul-escuro de seus conhecimentos musicais. Na verdade, o deslumbramento está no oposto disso. Ele está aqui pela entrega comprometida a cada nota, pela permeabilidade ao invisível, por algo que está ao alcance de todos, mas que não se ensina e não se aprende: se é.  

Uma vez assisti a uma entrevista em que lhe perguntaram: "como você faz isso?". Com seu inglês macarrônico do leste europeu, o maestro respondeu: "you don't do anything. You let it envolves you".


Sergiu Celibidache conduz a Sinfônica Nacional Dinamarquesa, 1971
  

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terça-feira, 23 de outubro de 2012

A bunda do Dali


Contou-me uma professora de História que brasileiro gosta tanto assim de bunda por causa da escravidão. É que os homens de cor clara queriam muito distrair-se com alguma negrinha, mas viravam-nas de costas pra deixar o coito mais impessoal. Faz sentido, já que as teorias evolucionistas percorrem o caminho inverso pra explicar o surgimento do amor: na medida em que a nossa postura foi ficando mais ereta, inventamos a posição sexual que permite o olho no olho e que é privilégio exclusivo da espécie humana. E quando nos olhamos nos olhos... Razoável então supor que os portugas, muito bem casado com suas bigodudas de mesma cor, expressassem seu interesse meramente carnal reposicionando suas negrinhas na posição primitiva. E foi assim que a bunda garantiu seu lugar na vista panorâmica do brasileiro e entrou para o panteão dos desejos nacionais.

Infelizmente a hipótese da minha professora não é verificável. Mas não importa. Ela pode não estar certa quanto ao porquê, mas ninguém discute o poder de uma bunda, que eu mesma pude verificar essa semana.

Em 1925 Dali pintou Moça à Janela, possivelmente a minha tela favorita dele. Acho de uma poesia ímpar que ele nos mostre não a moça, mas o que a moça contempla. A imagem é um convite para a abertura, para ampliar olhares e perder-se no horizonte. Já há alguns anos penso em colocar um pôster da Moça no meu consultório de Psicologia. São muito parecidos os convites, o lançar-se do Dali e a descoberta do novo que eu proponho aos meus pacientes.

Dali e Psicologia


O Dali ainda não foi parar nas minhas paredes, mas foi a imagem que escolhi para a página inicial do meu site, que venho construindo nas últimas semanas. Terminei o esqueleto e encaminhei o link a alguns queridos, pedindo opiniões honestas sobre suas impressões.

Foi chocante. Eu havia me esquecido do que me contara a professora de História do colegial, e fiquei perplexa com o comentário geral sobre o Dali. “É muito bonito”, disseram, “poético e sugestivo... mas que bundinha, hein?”! Na primeira vez eu relutei. A segunda me chegou com explicações psicanalíticas de alto calibre, e eu comecei a suspeitar que o convite do Dali fosse outro. Contei o ocorrido ao meu irmão e ele deu-me o golpe de misericórdia: “eu não queria dizer nada, mas foi a primeira coisa em que pensei”.

Absolutamente resignada, recomecei minhas buscas pela imagem ideal. Dá-lhe Google, cheguei em O Livro Árvore, outro Dali. Tem também janela, amplidão de horizonte, azul que descansa a vista, mas a imagem ideal, a minha imagem ideal, eu já encontrara e era a tanajura do Dali. 


Depois da angústia veio a decisão. Munida de minha versão mais castradora triunfei sadicamente sobre os portugueses, sobre os psicanalistas e sobre o meu irmão; em nome das negrinhas, das fêmeas dos animais e da Moça eu me vinguei: cortei a bunda do Dali! E pronto, está inaugurado o meu site! 



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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Zé Carioca canta Ary Barroso e Caymmi


Joe Carioca, aqui conhecido como Zé Carioca, nasceu no início da década de 1940, depois que o Valdisney veio visitar o Rio. O hemisfério norte começava a descobrir nossa cultura, e a música brasileira começava a ganhar o reconhecimento que dali em diante só faria crescer. Pra se ter uma ideia, Carmen Miranda Miranda fez sua primeira apresentação nos EUA em 1939. 

Hora de lembrar das aulinhas de História: no mesmo 1939 a Alemanha invadiu a Polônia, marcando o início da Segunda Guerra. Os americanos, muito espertinhos que são, acharam boa ideia fazer amigos aqui no cone sul. Essa política externa, executada pelo então presidente Roosevelt, ficou conhecida como Good Neighbor Policy. Disney não dá ponto sem nó, malandro! Imagina o ufanismo da geral quando o Zé começou a cantar Caymmi para o Pato Donald! Que bonita essa amizade! Sorte nossa, que aprendemos e ensinamos muito com o intercâmbio musical que começou a rolar a partir de então. Sorte nossa, que não percebemos a chacota do Valdisney: ele escolheu um papagaio  um papagaio!, quer que eu repita?  pra representar o Brazil-zil-zil. Era um baita dum malandro, esse Zé! Mas a gente gostou... ele é caloteiro e beberrão, há que se admitir, mas o Zé também é cativante, alegre, tem aquela malemolência também conhecida como, ops!, "jeitinho brasileiro"!

E vamos ao que viemos: no primeiro vídeo, de 1942, o Zé vai cantar Aquarela do Brasil e Tico-tico no Fubá, além de brindar o Pato Donald com um tour pela Cidade Maravilhosa. O segundo vídeo é de 1944, e nele o nosso papagaio entoa Na Baixa do Sapateiro e Você Já Foi À Bahia, com direito a vista panorâmica do Pelourinho. E dá-lhe Disney!










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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Caetano e Djavan - Sina

Caetaneando na música brasileira. O moço Djavan falou e eu concordei. Você também não acha que a luz de um grande prazer é irremediável neon?





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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Maria Bethânia - Jeito estúpido de te amar

A Bethânia me causa esse negócio que não cabe no peito, na voz, na palavra ou no palavrão. Não sei onde ponho as coisas que ela diz.

Deixa ela olhar nos teus olhos e ouve. Entendo, entendo sim gente que não gosta de Maria Bethânia. É muita inteireza, muita densidade dentro de cada palavra. Ela me solicita em todas as possibilidades da minha emoção, e, porque sou dramática, eu gosto e cedo. Gente metódica, engenheiro, pragmáticos, práticos, calculadoras, corretores de imóveis e da bolsa: esses não gostam da Bethânia. Meu irmão mais velho, tão amado, não pode desfrutar da Bethânia, porque é economista e alega que ela grita muito. Não entende, ele e todos os outros, que tem hora que é de grito e, então: grita-se!

Deixa ela olhar nos teus olhos e ouve.  






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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Porgy and Bess

Essa é pra você que acha que não gosta de musicais.

Em 1935 estreou nos EUA Porgy and Bess. A ópera folk conta a história do negro aleijado Porgy e suas tentativas de tentar livrar a amada Bess das garras de seu amante malvado, tudo dentro do contexto das plantações de algodão no sul do país. Vanguardista, a primeira montagem deu destaque para os negros, não somente no elenco mas também nos bastidores. Pra se ter uma idéia, a diretora do coro foi a musicista negra Eva Jessye. Claro que a coisa não foi muito bem aceita. 

Foi na década de 1970 que o musical finalmente virou cult, mas muito antes disso suas canções transcenderam a relação com a peça e ganharam versões de boa parte dos ícones do jazz. Sim, eu falei jazz. Tem que abrir a cabeça, pessoal. Musical não é só essa coisa fofa e florida que vocês pensam não. Duvida? E se eu disser que as músicas de Porgy and Bess são de autoria do grande George Gershwin? Melhora? 

Surpreenda-se com o enorme número de canções que você já conhece mas não sabia que vinham desse musical, e veja quanta gente diferente já reverenciou essa obra prima!

Summertime - Janis Joplin

I loves you Porgy - Nina Simone

I got plenty o' nottin' - Ella & Louis

Bess you is my woman now - Marisa Monte e Nouvelle Cuisine

It ain't necessarily so - Aretha Franklin

Agora fala de novo que você não gosta de musical, fala...



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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Chico e Caetano - Tatuagem, Esse Cara e Sem Fantasia

Infelizmente não consegui descobrir nada sobre esse delicioso Encontro da música brasileira. Fiquei imaginando que poderia ser parte da vibe do disco Caetano e Chico - juntos e ao vivo, mas as datas desmentem: o disco é de 1972 e o vídeo, de 1978. 


Onde será essa casinha nas montanhas? Sei não. Só sei que atrás do Caetano tem uma rede vazia e que era lá que eu queria estar!




Tatuagem / Esse Cara

Sem Fantasia




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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

João Gilberto e a Brahma

É que hoje é sexta-feira, gente! Em um dia como hoje, com esse céu azul e com o final de semana que eu tenho pela frente, não tem Cristo que me tire o bom humor!

Com o amigo João Gilberto não é bem assim. A chatice do João é lendária. Há uns tempos atrás saiu no jornal uma notícia sobre problemas hidráulicos no apartamento dele. Ocorre que o João, bicho do mato que é, tem o hábito de não abrir a porta pra visita nenhuma. Nem pro encanador. Sobrou pro vizinho de baixo, que ficou cheio de goteira em casa. E foi assim que o encanamento do João Gilberto virou notícia de jornal.

A Brahma deve ter pago uma nota pra o gênio mais chato da música brasileira gravar esse comercial, que termina com sorrisinho e com o imprescindível "número 1". O vídeo  segue a mesma onda bossa nova de outro comercial que já postei aqui, esse protagonizado pela dupla Tom e Vinícius. 

Então vamos de sexta-feira, João Gilberto e cerveja gelada, que é pra ninguém botar defeito!





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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Alice e a Lagarta - Disney

Transformações. Quem não as quer, quem não as teme? Gosto por demais desse assunto. Gosto tanto que sou terapeuta há quatro anos, e há mais tempo ainda sou paciente. Acompanhar a mudança, a mutação, a metamorfose é para mim um processo de beleza comparável ao desabrochar de uma flor. Um pouquinho mais bonito, porque a rosa não sabe que é rosa nem tampouco intenciona o veludo e a cor intensa de suas pétalas. É verdade que a rosa não sofre por deixar de ser botão, mas, coitada!, ela não pode olhar-se no espelho e sentir o gozo de ser rosa.

Dito isso, dou a palavra à Absolen, a lagarta que os estúdios Disney levaram ao cinema em 1951 e em 2010. Absolen sabe o que é metamorfose. Que propriedade essa dona tem pra falar de mudança! Vamos ouvi-la!

   


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terça-feira, 31 de julho de 2012

Chico Buarque e Paula Toller - Dueto

E prosseguimos com mais uma parceria inusitada da música brasileira. Aqui a Paula Toller realiza meu sonho e faz dueto com Chico Buarque cantando, justamente, Dueto. O corte de cabelo e o look da Paula estão lamentáveis - anos oitenta, fazer o quê? - mas ficou lindinha a versão que eles fizeram pra esse especial que a Band exibiu em 1984.

Todo mundo aí deve conhecer a versão original, na qual Ele faz parceria com a Nara Leão. Vou aproveitar a carona e mostrar aqui a minha versão favorita de Dueto, com a Zizi Possi na voz feminina. Gosto demais do timbre dela, pena que ela faça escolhas tão duvidosas de repertório. Per Amore não dá, né, Zizi?

Esta segunda versão faz parte da trilha do filme Amores Possíveis (2001). O Chico fez pequenas modificações na letra, e os mais atentos vão perceber como Ele brinca com os papéis masculino e feminino em cada versão.







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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Tom Jobim e Marina - Lígia

Eu adoro uma parceria inusitada. Essa daqui aconteceu em Nova Iorque, no especial que a Globo fez pra comemorar os sessenta anos do Tom Jobim. Delícia como O Maestro fica à vontade, curtindo a presença da menininha Marina Lima. Queria eu sentar no banquinho ao lado dele!




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segunda-feira, 25 de junho de 2012

The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore

É uma animação, mas não se engane: esse curta, vencedor do Oscar em 2012, é cinema de gente grande. Um linda alegoria sobre o poder curativo dos livros.






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segunda-feira, 11 de junho de 2012

Lalo Schifrin

Isso aqui é diferente. Vamos ver se vocês gostam.

O Lalo Schifrin é pianista, arranjador e etc. Com "etc", eu quero dizer que ele é músico em muitas das acepções da palavra. Ele é meio como o Enio Morricone, sabem? Compôs um monte de trilhas sonoras que a gente conhece mas não sabe que são dele. Eu mesma não o conheço muito. Quem me mostrou foi meu amigo Cauê. Eu sei que o Lalo é argentino e só. Já deu pra sacar que minhas praias favoritas são as da música brasileira e a do jazz, né? As praias que o Lalo gosta - e o Cauê também - eu visito só de vez em quando, mas sempre acho o pessoal de lá muito louco e acabo voltando pras minhas, onde todo mundo é normal. Né, Caetano?

Aqui temos a versão do Lalo pra uma das músicas mais clássicas do cinema, que é o tema de Tubarão. O Spielberg meio que renega esse filme. Não sei por quê. Eu adoro, me dá o maior medão. Se bem que eu também gosto do Aracnofobia, então acho que não tenho muita credibilidade...  





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domingo, 3 de junho de 2012

Chico Buarque x Cyro Monteiro

Gosto demais das historinhas da nossa música brasileira!

O Chico Buarque é Fluminense roxo. Quando nasceu sua filha Silvia, o Cyro Monteiro, de sacanagem, presenteou a pequena com uma camisetinha do Flamengo.  O Chico respondeu com o sambinha Ilmo. Sr. Cyro Monteiro (1970), que posteriormente recebeu o segundo título de Receita pra Virar Casaca de Neném. Pra entender o porquê é preciso ouvir com essas duas imagens em mente:

Chico PolitheamaFla x FluFla                          Flu
   
Aqui o próprio Cyro Monteiro nos presenteia com essa história. Um pouco difícil de entender por causa da qualidade do áudio. Atenção ao detalhe: a gatinha sentada à esquerda do Cyro é a Elke Maravilha. 


É claro que não posso deixar de colocar a versão d'Ele. Reparem na caixa de fósforo na percussão. É mais uma homenagem ao Cyro, que foi um exímio tocador desse instrumento de boteco.




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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Tereza da Praia

E seguimos na inesgotável e prazerosa tarefa de compreender porque é que o Tom Jobim era "o cara".

Tereza da Praia foi encomendada pela gravadora Continental pra fazer mais um pouquinho de $$$ em cima da suposta rivalidade entre Lúcio Alves e Dick Farney. Pareceria do Tom com Billy Blanco, o dueto foi lançado em 1954, quando Lúcio e Dick eram Os cantores e O Maestro ainda dava os primeiros passos na carreira - só pra dar uma referência, a Garota de Ipanema é de 1962. Nem preciso dizer do sucesso e das mil e uma regravações desse clássico da Bossa Nova. Quem foi ao mais recente show do Chico Buarque deve estar com a música fresquinha na cabeça, porque mais uma vez o Ele homenageou o maestro soberano, desta vez cantando a Tereza em uma irreverente parceria com o grande baterista Wilson das Neves.

E por falar em baterista, aqui vamos ficando com o tal do Toninho, que eu não conheço, mas que faz a parceria com o Dick no lugar do Lúcio Alves. Não querendo desmerecer o Toninho, diz que é excelente baterista, mas aqui a gente gosta das coisas clássicas, é ou não é? Incompetência minha, que não achei vídeo do dueto original. Segura, Toninho!





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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Over the Rainbow - Judy Garland

Eu devia ter uns 6 anos quando minha mãe me disse pra assistir a O Mágico de Oz. Eu não gostei da ideia, falei pra ela que só gostava de desenho animado. Ainda mais filme velho! O Mágico é de 1939!, vê se eu tinha cara... Mas minha mãe sabe das coisas: me enfiou no cinema à força e me obrigou a ver. Daí o filme começou. Gente, o começo do filme é em P&B. Eu queria matar a minha mãe! Imagina só a minha tromba. Imaginou? Agora imagina a minha cara no final da sessão quando a mamãe veio perguntar se eu tinha gostado...

Todos vocês já viram essa cena. Tenho muito respeito por ela e pelo filme todo. O que é que eu posso dizer, é uma clássico dentre os clássicos! Quantas atrizes da década de 30 você conhece? A Judy Garland se foi em 1969 e continua famosa. Sem falar na lindíssima Over the Raimbow, que segue sendo ouvida e gravada mais de 60 anos após o lançamento desse clássico dos musicais! Vamos apenas desmentir um fato: O Mágico não é o primeiro filme a usar Technicolor. Ele fez  uso notável da técnica, e talvez por isso tenha levado a fama, mas esse troféu vai para Vaidade e beleza (1935), de Rouben Mamoulian.




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quarta-feira, 16 de maio de 2012

Saudade pela boca

Faz frio e estou tomando chocolate quente. Chocolate quente de verdade, com um pedaço de chocolate de verdade, bem escuro e bem brilhante.  Hoje de manhã no hospital em que eu trabalho um pessoal do Starbucks estava oferecendo café e uns mini pedacinhos de brownie. Comi uns dez. Frio é assim mesmo: a gente fica com vontade de comer, de ficar dentro de casa e de ficar junto.

Quando eu era pequena ia todos os domingos à casa da minha avó paterna. Normalmente os adultos diziam que lugar de criança "era lá fora", no quintal, mas às vezes – imagino que no frio – fazia-se exceção e as crianças iam pra cozinha fazer biscoito de nata. Veja, quando eu digo “as crianças”, estou me referindo ao sem fim de netos de uma mulher que teve catorze filhos. Todas as manhãs ela fervia o leite (muito leite) e pouco a pouco ia juntando a nata com que depois os netos faríamos biscoito. Eu não tenho muita lembrança da confecção da massa – talvez fossem os adultos e as crianças mais velhas quem cuidassem dessa etapa – mas depois eram metros e metros de massa aberta, e aí era a hora de a criançada liberar a criatividade, porque a massa de biscoito virava escultura. Lá na casa da vovó Alice tinha forminhas de todos os formatos possíveis, mas o legal mesmo era pegar a faca e recortar um biscoito único, personalizado! O biscoito mais bonito que eu vi foi um porquinho que uma das tias, a Vana, fez. Tinha rabinho de porquinho, focinho de porquinho e corpinho roliço, em forma de barril. As fornadas iam deixando um cheiro quente inebriante pela casa toda, as crianças loucas pra ver o resultado final das obras de arte. A Vana deixou e eu comi o porquinho dela.

Tinha também o pão da Bel. Acho que a Bel nem sabe que é assim que eu me refiro ao pão dela. Era tão legal amassar o pão da Bel! Tinha que sovar mesmo, meter a mão com uma força que na época eu não tinha! Será que meu irmão do meio se lembra de nós dois arremessando o pão da Bel contra a bancada? Depois, mais um cheiro inebriante, e como era bom comê-lo pelando, a manteiga derretendo já quando a faca se aproximava da fatia fumegante! Fim de semana de frio, quando eu ficava em casa, sempre pedia pra minha mãe: “mãe, vamos fazer pão da Bel?”.

Na casa da minha avó materna era diferente. Ela se chamava Maria de Nazareth e detestava quando algum desavisado via seu nome no cheque e a chamava de “dona Maria”. Ela nunca cozinhava, mas era meticulosa e detalhista que só, de modo que a casa dela também tinha suas iguarias. Eu gostava muito do suflê de nozes, mas bom mesmo era o bom-bocado. Eram pequenininhos, não como esses enormes que a gente vê na padaria. E outra, os bom-bocados da minha avó não levavam coco, e eu sempre tive uma aflição danada do barulhinho que faz quando a gente mastiga coco. Por cima do bom-bocado ficava aquela casquinha dourada de queijo ralado, e por dentro era aquele não-sei-explicar que derretia na boca! Eu e minha mãe comíamos uns dez, quinze cada uma. Se tivesse mais, comíamos mais.

Aqui em casa tem a receita do bom-bocado, do suflê de nozes, do biscoito de nata, do pão da Bel e de outras receitas de família. Será que um dia vou voltar a assar uma fornada de biscoito de nata? Será que vai ter graça, o gosto sem os personagens em volta? Será que todas essas comidinhas de família são realmente tão gostosas quanto me dizem as lembranças, ou o sabor se mistura com o afeto? Quando eu tiver meus próprios filhos talvez essas receitas acordem, talvez venham outras. Grande sacada dos comerciais de tempero, arroz e margarina essa coisa de mostrar a cozinha como cenário de tanta afeição. Um bom prato de comida de fato pode ser uma declaração de amor.

Eu tenho saudade dos sabores da minha infância. Comer com o pensamento não é a mesma coisa.



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