quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Elas nunca se entenderão (e se entendem todo dia)


- Mas então quer dizer que a Fefê é lésbica, filha?
- O que foi que eu acabei de dizer, mãe?
- Que ela é lésbica, que beijou uma moça!
- Eu disse que a Fefê está namorando a Ana. Ponto.
- ... não entendi...
- Mãe, ela está namorando a Ana, antes namorou o Paulo e sei lá quem vai namorar depois!
- Mas então a pessoa vira lésbica? Não nasce lésbica? E depois pode virar ex-lésbica?
- Mãe, por que é que você tem que colocar etiqueta em todo mundo?
- Etiqueta? Estou confusa... lésbica não é mulher que gosta de mulher?
- Como você é simplista.
- Filha, estou tentando entender! Não sei como funciona! É uma coisa que a pessoa escolhe?
- Escolhe?! Escolhe o quê, mãe???
- Se vai ser gay, se vai ser lésbica! Não falam que é a opção sexual da pessoa?
- Vixe, mãe...
- Sério, filha, me explica! O que é ser lésbica?
- “Lésbica” é um rótulo, mãe, não serve pra nada.
- Filha, etimologicamente, “lésbica” vem de “Lesbos”, a ilha grega em que moravam as Amazonas...
- Mãe, pára!
- O quê? O que foi?
- ...
- Tá bom, tá bom. Deixa eu pensar... O Ricky Martin. O Ricky Martin é gay, não é? É sim, eu lembro quando ele saiu do armário, deu na TV.
- E o Ronaldo, mãe? O Ronaldo é gay?
- O Ronaldo?
- É, mãe, o Fenômeno.
- O Ronaldo é casado! Pai de família!
- Lembra daquela história com os travestis?
- Ai... teve isso, né...
- Teve, mãe, teve isso.
- O Ronaldo é gay, filha?
- Mãe, o Ronaldo é o Ronaldo! Casou, teve filho, separou, saiu com travesti – ou não, sei lá – depois casou de novo... A Fefê é a Fefê e eu sou eu!
- Você está dizendo que gay não existe? Nem lésbica?
- Ai, mãe, chega. Fica aí com as suas etiquetas. Tô saindo, vou encontrar o pessoal.
- A Fefê?
- Tchau, mãe.

***

- Filha...
- Oi, mãe?
- Eu queria te dizer uma coisa...
- Fala, mãe.
- É sobre aquela conversa que tivemos no outro dia...
- Que conversa?
- De gay, de lésbica...
- A conversa das etiquetas?
- É... isso...
- Mãe, desembucha.
- Filha, eu quero que você saiba que a mamãe te ama muito e vai te amar pra sempre, não importa o que aconteça. E você pode me contar qualquer coisa que a mamãe vai sempre sempre te apoiar, tá bom?
- Nossa, mãe, pirou, hein?
- Filha, espera!
- To saindo, mãe, vou encontrar uma amiga.
- Uma amiga? A Fefê?
- Tchau, mãe.




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2 comentários:

  1. Vamos lá! Quem sabe dessa vez o comentário vai... com um pouco mais de paciência.
    Além do que eu já disse, adorei o título!

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    Respostas
    1. Fofa.

      Que bom que gostou. Eu quebrei a cabeça pra chegar nesse título.

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