sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Carmen Miranda ainda hoje

Caetano Veloso, Marisa Monte, Daniela Mercury, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhoto, Maria Bethânia, Ivete Sangalo, Bebel Gilberto, Elis Regina e Gal Costa: este são alguns dos milhares de artistas que já regravaram canções celebrizadas por Carmen Miranda. Ainda assim é difícil compreender, com o olhar de hoje, o que diabos é que essa baiana tem. 

A primeira coisa a ser dita é que Carmen nasceu em Portugal. Mas tudo bem, não precisamos dividir as glórias com os portugas porque ela veio pra cá muito pequena e o Brasil sempre foi o país do seu coração. A segunda coisa a dizer é que Carmen, se fosse brasileira, não seria baiana. Ela cresceu na Lapa carioca, que nos anos 1910 e 1920 era aquele caldeirão cultural fervilhante que a gente conhece das músicas do Chico Buarque. Estamos falando da época em que o samba ainda era pecado e nos salões da alta sociedade o que se bailava era música gringa.

A pequena notável apropriou-se de toda essa sopa cultural e fez-se a primeira artista multimídia do Brasil. Além de cantar, dançar e atuar, transitava com facilidade pelo que viria a se tornar a indústria cultural. Sua projeção internacional até hoje não é comparável à de nenhum outro artista brasileiro  você conhece alguém mais que tenha virado desenho da Disney?

Mas a Carmen Miranda dos americanos mostrava um Brasil cheio de latinidades, misturando no mesmo balaio Rio, Bahia e pitadas de salsa. Incentivada pelos produtores americanos, carregava nos trejeitos e no sotaque, embora falasse inglês muito bem. Foi, por isso, acusada de acentuar o esterótipo brasileiro e de servir de instrumento para a estratégia americana da boa vizinhança, que precedeu a Segunda Guerra. Esse assunto é abordado com mais profundidade na postagem sobre o Zé Carioca

Da controvérsia veio um de seus maiores clássicos, Disseram Que Voltei Americanizada, gravado posteriormente por Caetano Veloso, Roberta Sá, Adriana Calcanhoto e muitos outros. 

Como toda estrela que se preze, Carmen partiu jovem e sozinha. Estava afogada entre compromissos de trabalho e remédios, e em 1955 morreu aos 46 anos.

Escolhi o trecho de abertura no filme That Night in Rio (1941). Carmen que me desculpe, mas é transbordante a presença do elemento político pré-guerra nessa cena. Na sequência Roberta Sá nos mostra sua versão para Disseram Que voltei Americanizada. O vídeo é parte de um especial que celebrou o centenário da estrela.
   




   

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Um comentário:

  1. “Dos 21 aos 29 anos, entre 1930 e 1939, Carmem Miranda foi a maior estrela do disco, do rádio, do cinema, dos palcos e dos cassinos brasileiros ___ recordista em gravações, vendas, cachês, salários e, principalmente, em amor. Era adorada pelo público, respeitada pelos colegas, disputadas pelos veículos de imprensa, desejada pelos homens. Até então nenhuma outra mulher fora tão famosa na história do Brasil. Com ela, o samba se tornou a língua falada no país.”

    “O Brasil nunca compreendeu a dimensão de sua lenda e nem soube aceitar seu sucesso americano.”
    (Trechos retirados da orelha de “Carmen uma biografia”, Ruy Castro, 2005, Companhia das letras.)

    “Disseram que eu voltei americanizada”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, assim como “Voltei pro morro” foram apresentadas pela primeira vez em 12 de setembro de 1940 na reestréia de Carmen Miranda e o Bando da Lua no Cassino da Urca, depois da volta ao Brasil que ela tinha deixado em 5 de maio do ano anterior.

    ”Vários outros sambas daquela fornada realçavam o caráter ultrabrasileiro de Carmen. E o próprio Bando da Lua lançou uma novidade que entraria para história: “O Samba da minha terra”, de Dorival Caymmi.” (trecho do mesmo livro)

    Felizmente, Carmen Miranda é muito mais importante para musica brasileira e para o Brasil e muito mais complexa do que a meia dúzia de filmes “b” feitos na Hollywood dos anos 40.
    A importância dos compositores que lançou e ajudou a divulgar, através de seu sucesso e suas interpretações, são fatos que falam por si só.
    Porém ainda hoje o Brasil não a compreende e tão pouco a aceita. Quantas locais não deveriam se chamar Carmen Miranda e não são assim denominados? Quantas as estatuas ou monumentos deveriam ter sido erigidos em homenagem a ela e não foram? Quantos prêmios de musica deveriam levar seu nome?

    Letícia,
    Parabéns pelo post, este eu adorei.
    Beijos do amigo e “cumpanheiro”

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